terça-feira, agosto 15, 2023

JACOB’S LADDER (1990)

BZ VIAGEM ALUCINANTE

Um filme de ADRIAN LYNE


Com Tim Robbins, Elizabeth Peña, Danny Aiello, Matt Craven, Patricia Kalember, Ving Rhames, Macauly Culkin,  etc.

EUA / 113 min / COR / 
16X9 (1.85:1)

Estreia nos EUA a 29/10/1990 
Estreia em PORTUGAL a 25/1/1991

«According to this, you're already dead»

Depois de “Flashdance” (1983), “Nove Semanas e Meia” (1986) e “Atração Fatal” (1987) , os seus filmes mais conhecidos da década de 80, o realizador inglês Adrian Lyne inicia os anos 90 com este icónico filme, percursor de um tipo de cinema que, tendo as suas raízes no chamado filme de terror, ultrapassa os clichés do género para nos transmitir uma inquietação bem mais verosímel. “Jacob’s Ladder” é provavelmente o seu melhor contributo para a história do cinema, atendendo tratar-se de um filme que não é fácil esquecer-se e que, como já referido, iniciou uma nova abordagem no género.

Jacob Singer, depois de perder o filho mais novo, Galeb (Macauly Culkin) num acidente automóvel, vai servir durante dois anos no Vietname, onde procura esquecer a tragédia que se abateu sobre a sua família, e que o levou a divorciar-se da mulher Sarah (Patricia Kalembar). É por aqui que o filme de Lyne se inicia, mostrando-nos os elementos do pelotão de Jacob, que num certo dia se descontrolam numa acção contra o inimigo, durante a qual são todos eles acometidos por estranhos sintomas fisiológicos, desde vómitos a hemorragias inexplicáveis. No final dessa sequência, Jacob acaba por ser esfaqueado por uma baioneta.



A acção muda-se agora para Brooklyn, Nova Iorque, onde Jacob, depois de regressar do Vietname, inicia uma nova vida, com outra mulher, Jezzie (Elizabeth Peña , falecida em 2014 com apenas 55 anos, devido a uma cirrose no fígado) e num novo emprego, como funcionário dos Correios. Vêmo-lo numa carruagem de metro a acordar de um pesadelo (mais uma vez relacionado com o Vietname) e depois fechado na estação de Bergen St, com os acessos ao exterior cortados. Finalmente consegue chegar a casa, depois de quase ter sido atropelado pelo comboio.  Mas os fantasmas do passado continuam presentes e, mais grave, Jacob começa a experimentar perturbações mentais de dissociação da realidade, que vão progressivamente aumentando até se tornarem obsessivas e mesmo demoníacas. Jacob constata que os antigos companheiros de armas também começam a sentir os mesmos problemas, o que os leva a conjecturar se o exército não terá alguma culpa no cartório. Será que todos eles foram submetidos a um qualquer tratamento químico com consequências devastadoras?



Não se pretende aqui estragar a emoção do espectador que, nunca tendo assistido a este filme, se vai interrogando com as possíveis causas para o aparecimento das citadas perturbações em Jacob e nos seus amigos. Mas sempre se pode adiantar que a revelação final, na derradeira imagem do filme, é algo muito mais óbvio e simples. O argumento de “Jacob’s Ladder”, da autoria de Bruce Joel Rubin, é baseado no “livro dos mortos”, uma obra tibetana  do século oitavo, ditados pelo Yogi indiano Padma Sambhava e transcritos por um aluno seu, Yeshe Tsogyal, e que constitui um guia através das experiências pós-morte até se atingir o grau máximo de espiritualidade. De referir ainda a alusão à história bíblica “Jacob’s Ladder” do livro do Génesis, na qual o patriarca Jacob descobre uma escada que leva ao céu.



“Jacob’s Ladder” é muito mais do que um simples filme de terror. É um drama humano, magistralmente disfarçado de thriller sobrenatural, onde a inquietação crescente é vivida pelo espectador em simultâneo com a que o personagem principal vive no écran. Essa seria mesmo a intenção de Bruce Robin e de Adrian Lyne, que mostram um prazer malicioso em fazer com que o espectador se perca num verdadeiro labirinto onde as fronteiras balançam constantemente entre o sonho e a realidade. Ao pegar naquilo que é familiar e ao torná-lo ligeiramente desagradável ou grotesco (ficaram célebres os movimentos ultra-acelerados das cabeças dos chamados demónios), Lyne atinge um estado cinematográfico de eleição, onde não se pode confiar em nada e em que quase tudo é inesperado. Tim Robbins é soberbo na sua interpretação das diversas emoções, sem o recurso a quaisquer artifícios. Elizabeth Peña, filha de imigrantes cubanos, é um contraponto eficaz na sua transbordante sensualidade. E Adrian Lyne tem aqui o seu filme mais conseguido (do ponto de vista cinemático), tendo sido nomeado para o Grande Prémio do Festival Fantástico de Avoriaz de 1991, em França. O vencedor foi John Harrison, pelo filme “Tales From the Darkside”, mas Lyne ganhou os prémios do público e da crítica. Finalmente, notas também muito positivas para a fotografia de Jeffrey Kimball e a música do veterano francês Maurice Jarre.


ALGUMAS CURIOSIDADES:

- Na primeira apresentação pública (o chamado “teste privado”) os espectadores acharam o filme impressionante demais, o que levou Adrian Lyne a cortar cerca de 20 minutos, metragem essa relativa ao último terço. Quatro sequências principais foram removidas.

- As obras dos pintores William Blake, HR Giger e Francis Bacon, bem como as fotografias de Diane Arbus e Joel-Peter Witkin serviram de principais influências a Adrian Lyne para o estilo visual do filme.

- Os actores que estavam supostamente interessados em interpretar o papel principal de Jacob Singer incluíam Richard Gere, Dustin Hoffman e Al Pacino. Já Tom Hanks recusou o papel que lhe foi proposto em primeira mão por Lyne por já ter assinado o contrato para desempenho no filme “A Fogueira das Vaidades”. Para o papel de Jezzie, Lyne fez  testes com cerca de 300 actrizes, incluindo Jennifer Lopez, Andie MacDowell, Madonna, Demi Moore e Julia Roberts. O personagem feminino acabou por ser desempenhado pela primeira pessoa que fez o teste, Elizabeth Peña.

- “Jacob’s Ladder” foi incluído na lista de 400 filmes do AFI de 2001, nomeados para os 100 filmes americanos mais emocionantes.